quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Explicando o Nobel de Física

Semana passada, foram entregues os prêmios Nobel de 2012. Eu só publiquei algumas linhas a respeito de um dos  ganhadores do prêmio de Medicina. Aliás, nem citei a obra que fez com que John B. Gurdon e Shinya Yamanaka ganhassem o seu Nobel.

Acho que estou devendo alguns textos, comentando os destaques, traduzindo o porquê que eles mereceram o prêmio e, principalmente, no que essas pesquisas vão mudar a nossa vida.

Hoje vou falar do Prêmio de Física:

O prêmio Nobel de física foi dado a Serge Haroche e David Wineland.
O experimento foi notável porque, pela primeira vez, conseguimos medir o mundo quântico sem interferir nele.
Porque diabos isso é importante? Deixe-me tentar explicar, aqui.

Quando estudamos um objeto que está em nossa escala, ele é grande e pesado o suficiente para podermos medir suas características com as ferramentas que temos.
Imagine por um instante: você só enxerga porque a luz “ricocheteia” nos objetos e encontra os seus olhos. Sim, subatomicamente falando, estamos nadando em um mar de partículas de luz – os fótons.
Só que esses fótons – a ferramenta que usamos para ver – possuem, sim, massa. Eles têm um peso, mesmo que insignificante. Por sorte o peso é tão insignificante que não notamos quando um fóton nos toca.
Agora, eu quero desmistificar uma coisa: o mundo sub-atômico NÃO É diferente do nosso mundo. A única diferença entre os dois mundos é que, no mundo sub-atômico, os objetos são incrivelmente pequenos e leves. Por serem elementares, não há nada menor que possamos utilizar como ferramentas para medir as suas características.
Imagine: para “vermos” um elétron, precisaríamos que um fóton ricocheteasse nele. Só que o elétron é tão leve, que o fóton que disparamos em sua direção altera a posição do elétron! Quase como quando fazemos a bola branca bater em outra bola, na sinuca, o peso do fóton faria com que o elétron saísse do seu lugar!
E, se o elétron saiu do lugar, precisaríamos inundar com fótons o lugar onde achamos que ele está, para vermos ele novamente. E cada fóton iria ricochetear o elétron, como uma mesa cheia de bolas brancas sendo jogadas na direção de uma única bola de sinuca! 

Conseguiu notar como é complicado “ver” onde está uma partícula sub-atômica?

Agora a pergunta-chave: Qual é a utilidade disso?

Quando conseguirmos manipular as partículas sub-atômicas, poderemos montar novos equipamentos desde o nível sub-atômico. Nossos compostos como ligas metálicas, tecidos e plásticos poderão ser muito mais finos, inteligentes e resistentes. Poderemos criar máquinas minúsculas para tratamento de doenças, de modo muito menos invasivo, mais preciso e eficiente. Poderemos criar computadores ultra-potentes em tamanhos quase microscópicos.

E isso tudo passa por conseguirmos medir com precisão as partículas. Você não consegue fazer um prato sem saber onde estão os ingredientes. Precisa vê-los, medir a quantidade, o peso, a qualidade, volume e até o tempo de preparo. É o mesmo com o mundo sub-atômico. Só que, até o estudo de Serge Haroche e David Wineland, o mundo sub-atômico era uma cozinha com todos os ingredientes, mas completamente mergulhada na escuridão!

Por isso Serge Haroche e David Wineland ganharam o prêmio Nobel. Por isso temos que continuar pesquisando. Por isso é que a ciência é importante. Porque ela nos dará acesso aos conhecimentos secretos cuja sua falta, hoje, nos impossibilita fazermos grande parte do que sonhamos.

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