quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Perdi Novamente

Eu perdi novamente.

Era uma manhã comum. Não lembro se era uma quinta. Acho que era uma quinta. Tinha tudo para ser uma quinta. Sim, com certeza era uma quinta. Se não era uma quinta, a partir de agora passou a ter acontecido em uma quinta.
Era uma quinta pela manhã. Aula. Colégio Heriberto Hülse. Criciúma. Então o meu grande amigo Alexandre virou para o meu outro grande amigo Robson e desferiu: “Robson, eu tenho um vídeo-game. Tu tens um vídeo-game. Vamos montar uma locadora?”
Ele nem esperou resposta do Robson. Olhou para mim e perguntou o mesmo: “Arthur, eu tenho um vídeo-game. Tu tens um vídeo-game. Vamos montar uma locadora?”

Assim, no impulso. Robson olhou para mim. Olhou para o Alexandre. Nós todos pensamos por um segundo, enquanto nos entreolhávamos.

“Sim?”
“Sim!”
“Sim!”
“SIM!!!”

Naquela tarde, liguei para meu pai, extorquindo dele dinheiro para comprarmos jogos.
Robson encheu a paciência da mãe dele, até que ela falou com um amigo para alugar uma sala comercial para nós.
O Alexandre já foi pegando os vídeo-games e televisores.

Acho que não demorou dois dias para que a nossa locadora estivesse aberta.

Se a minha péssima memória não me deixar na mão, o nome era algo como “Trash Zone”. Bem, se não era, agora é.

Alguns vão falar que impulsos são coisas naturais para adolescentes. Que os nossos “sim” precipitados foram algo como brincadeira de criança. E, a se julgar pelo resultado (creio que não duramos três meses...), até que pareceu mesmo uma brincadeira de criança. Só que, por mais que estivéssemos “brincando”, ali, eu trouxe essa história para falar sobre um ponto: o “SIM”.

Eu tive imenso prazer em estar envolvido com uma “turma do sim”. Aliás, mais de uma turma. Pessoas que eram realmente parceiras, sabe? Aqueles com quem tu podes contar para qualquer coisa, qualquer hora, qualquer circunstância. Pessoas que vão te propor coisas inusitadas. E, mesmo assim, pessoas com quem você vai querer estar perto o tempo inteiro, para não perder nenhuma oportunidade de fazer alguma coisa revolucionária, legal, repentina e – sempre – divertida.

Bem. Eu me mudei. Fui procurar meus caminhos. Cresci. E, desde então, não consegui encontrar gente assim. Procuro. Vou te confessar que procuro. Gente que queira sair. Que tope uma festa chique em um dia e uma indiada no dia seguinte. Que a simples presença dos convivas seja suficiente para as melhores aventuras.

Eu confesso que procuro pessoas por esta característica. Confesso que só me aproximo de pessoas que parecem demonstrar essa característica. Mas sou obrigado a dizer que, vez após a outra, me decepciono.

Não sei o que acontece. Talvez as pessoas levem consigo cada medo que adquirem durante a vida. A desconfiança, o ranço. Parece que, para amadurecer, cada pessoa tenha que, obrigatoriamente, se tornar mais chata. Amargurada.
Então, se armam com cada uma dessas coisas esquisitas para reforçarem suas opiniões. Opiniões que geram vontades. Vontades que geram regras de vida, que novamente impedem que as coisas aconteçam.

Escutei nesse ano: “Não acho nada interessante em uma pessoa que só diz “sim” pra tudo!”
Não, amigo. Uma pessoa que diz "sim" pra tudo é uma pessoa interessante. Aliás, uma pessoa que diz "sim" pra tudo talvez seja a pessoa mais interessante que possa existir. Porque trata-se de uma pessoa feliz. Uma pessoa aberta ao que a vida pode oferecer. Uma pessoa que prova todos os vinhos e sabe dizer, com precisão, o que é melhor para cada momento.

Falei tudo isso porque, nessa semana, eu descobri que um amigo que eu pensava ser "do sim" não era. E isso me deixou profundamente ressentido. 

E eu perdi. Perdi novamente.

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